segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Manifestação Contra a Charte des Valeurs Québécoise

Allo, Povo de Deus,

Já havíamos publicado um post anterior falando sobre a chamada Charte des Valeurs do Québec, que tenta criar uma identidade quebequense, identidade esta que passa pela neutralidade religiosa e que entre seus estatutos prevê a proibição da ostentação de símbolos religiosos para os empregados de funções públicas da província. Este é o ponto mais polêmico, pois desde enfermeiros, professores, servidores públicos, servidores nas creches públicas e privadas com subvenção da província, todos deveriam se submeter a este estatuto. O impacto imediato é que os funcionários judeus e muçulmanos, principalmente, mas porquê não os cristãos, teriam de se apresentar ao serviço sem as vestimentas religiosas, como o véu das mulheres e a kippa dos judeus.
 
Bem, a semana passada finalmente o ministro Bernard Drainville (Parti Québecois) apresentou a dita carta de valores para votação na assembléia nacional (diga-se: do Québec), e houve bastante discussão e polêmica durante a semana, pois afinal revelou-se o que realmente está previsto e que até agora era somente suposição. Enfim, tudo o que era suposição realmente está previsto na Charte de Valeurs, sem trocadilho.
 
Na região de Montréal, 15 prefeituras de Montréal e região metropolitana se declararam contra a carta de valores, sendo que os três candidatos à prefeitura de Montréal já falaram que, se forem eleitos, vão também rejeitar a dita carta. Os políticos da ilha de Montréal julgam que a carta desconhece completamente a realidade da região, onde existem muitos e muitos imigrantes. Só para se ter uma idéia, 29 mil pessoas trabalham para o governo e seriam afetadas diretamente. As gardiennes (que cuidam das crianças nas creches) muçulmanas estão prontas para largar o emprego imediatamente se forem obrigadas a trabalhar sem os véus tradicionais de sua religião.
 
Mesmo dentro do próprio PQ existem já divergências sobre a carta. A deputada pequista de Ahunstic (região ao norte da ilha de Montréal) assinou um document chamado "Coletivo dos Independentes por um Estado Laico Inclusivo" (tradução livre), e saiu criticando a carta de valores na TV. Foi expulsa do partido, gerando acusações de despotismo e autoritarismo ao governo de Pauline Marois, a primeira ministra do QC.
 
No sábado passado, mais de 20 mil pessoas de várias religiões saíram às ruas para protestar contra a Charte de Valeurs, principalmente muçulmanos e judeus mas também católicos e outras crenças cristãs. Colocamos um vídeo abaixo que fala da manifestação ocorrida. Basicamente, o povo diz que se a carta de valores for aprovada, caem fora da província.
 
Bem... o que pensar sobre isso? Existem muitas opiniões circulando e o pessoal não gosta muito de falar do assunto, mas eu vejo aqui dois pontos importantes à pensar sobre esta questão, não esquecendo que nós, os autores do blog, somos cristãos católicos:
  1. O governo ultrapassou um limite de liberdade individual das pessoas para favorecer o chamado Estado Laico. Se pensarmos eticamente, qual é o valor maior, mesmo deixando a religião de lado? A liberdade de expressão das pessoas ou a identidade de uma nação? Creio que a identidade de uma nação é feita à partir da identidade das pessoas. Isso aconteceu no Brasil: recebemos diversos imigrantes no passado e a nossa identidade hoje é formada pela mistura de todos eles. Assim, somos uma cultura resultante da contribuição deles. E que tal se houvéssemos proibido estas manifestações na época? Portanto, se o valor maior é a identidade individual, que inclu as crenças religiosas, o governo não pode interferir nesta questão, até porque eles continuam chamando os imigrantes para povoar e trazer renda para a província.
  2.  
  3. O fato de se usar ou não uma vestimenta ou símbolo religioso não modifica o que está na cabeça das pessoas. Isso foi tema de uma coluna de opinião de um jornal local desta semana e eu concordo plenamente. A própria pessoa é por ela mesma um símbolo religioso e isso não muda por causa da ostentação de um símbolo ou vestimenta. Se o governo pensa desta forma, ele está assumindo uma postura claramente preconceituosa e pode ver seu projeto da carta de valores ser rejeitado categoricamente na assembléia. Além disso, por experiência própria, não é possível separar a religião de uma pessoa. Ela não tem como ser religiosa só em seu "templo de pedra" e Deus nos convida a estarmos no mundo... não temos opção e creio que as pessoas de outras religiões também não tem.
  4.  
  5. Sobre o lado político, a carta não parece demonstrar uma atitude inteligente do Parti Québecois, que tem minoria na assembléia, pois tinha 5 deputados e expulsou uma e agora ficou com 4. Os outros partidos estão aproveitando para rechaçar o governo. As outras províncias, como Ontario, já estão fazendo publicidade em Montréal para atrair gente para lá. Eles mostram uma foto de uma enfermeira usando o véu muçulmando e dizendo que "não ligam para o que você usa em volta da cabeça, mas sim o que você tem lá dentro".
Porém, não podemos esquecer que os políticos aqui vão atrás dos votos, como em qualquer lugar, e uma pesquisa independente no início das discussões mostrou que 51% dos habitantes da província apoiariam a carta tal qual. Então, vamos aguardar o resultado da votação torcendo para que a liberdade individual de cada um seja respeitada.
 
E vamos seguindo com passos firmes e ostentando nossa religiosidade, de quem sabe onde quer chegar!
 
Abração e a Paz
Igor Schultz



Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom Familia Schultz, gostei mesmo.
Sebastião Filho